loader image

3.5. Desafios e caminhos para a efetivação do plano

3.5.1. Entre a proposta e a prática: garantir que o PMEA saia do papel e chegue ao território

A elaboração do Plano Municipal de Educação Ambiental de Charqueada (PMEA) representa um importante marco na consolidação de uma política pública voltada à transformação socioambiental do município. No entanto, como todo plano de ação pública, seu sucesso dependerá da capacidade de efetivação concreta de suas metas, ações e diretrizes, o que envolve enfrentar uma série de desafios estruturais, institucionais e culturais.

Este tópico tem como objetivo refletir sobre os principais obstáculos que podem dificultar a implementação do PMEA e apresentar caminhos possíveis para superá-los, com base em princípios da Educação Ambiental crítica, metodologias participativas e estratégias de gestão democrática.

 

3.5.2. Desafios para a efetivação

 

  1. a) Continuidade política e administrativa

Um dos principais desafios enfrentados por políticas públicas ambientais no Brasil é a discontinuidade entre gestões. Mudanças de governo, falta de institucionalização e ausência de políticas de Estado comprometem a continuidade de planos como o PMEA, especialmente se suas ações não estiverem integradas aos instrumentos oficiais da administração pública.

A ausência de legislação específica que vincule o plano a planos plurianuais (PPA), leis orçamentárias e metas de governo pode enfraquecer sua aplicação ao longo do tempo.

  1. b) Limitações orçamentárias e técnicas

A implementação de ações permanentes exige recursos financeiros, humanos e materiais. Em Charqueada, como em muitos municípios de porte semelhante, há escassez de orçamento voltado especificamente à Educação Ambiental, o que limita a ampliação das iniciativas já existentes.

Além disso, a falta de técnicos especializados, educadores ambientais e pessoal capacitado compromete a sustentabilidade das ações no longo prazo.

  1. c) Baixo engajamento da população e dos agentes públicos

A Educação Ambiental depende de participação cidadã e compromisso intersetorial. Contudo, em contextos marcados por descrédito político, desigualdade social e sobrecarga dos servidores, pode haver baixa adesão às atividades propostas pelo plano. A Educação Ambiental ainda é vista por muitos como “atividade complementar” ou de “segunda prioridade”, e não como parte estratégica da formação de sujeitos e do planejamento de políticas públicas.

  1. d) Fragmentação das políticas e falta de articulação

A ausência de diálogo entre secretarias, conselhos, ONGs, escolas, movimentos e empresas pode dificultar a integração intersetorial e territorial necessária à efetividade da política pública ambiental. Projetos isolados, não articulados com o PMEA, podem gerar duplicidade de esforços ou mesmo conflitos de orientação.

 

3.5.3. Caminhos para a efetivação

 

Apesar dos desafios, o PMEA de Charqueada apresenta elementos robustos para que sua efetivação seja possível e consistente. A seguir, indicam-se estratégias estruturantes que podem ser adotadas para consolidar o plano no cotidiano da gestão pública e das práticas educativas.

  1. a) Institucionalização legal e orçamentária

A criação de um fundo municipal de Educação Ambiental, como previsto no plano, é fundamental para garantir financiamento estável. Além disso, é recomendável:

  • incorporar o PMEA aos instrumentos de planejamento (PPA, LDO, LOA);
  • aprovar uma lei específica que regulamente o plano, sua vigência, governança e obrigatoriedade de execução;
  • garantir que as metas da EA sejam referendadas por resoluções dos conselhos municipais.
  1. b) Formação e valorização dos educadores ambientais

A criação de cargos específicos ou funções gratificadas para educadores ambientais dentro do serviço público municipal permite reconhecer e valorizar a atuação técnica e pedagógica da área. Para isso, é necessário:

  • estabelecer programas de formação continuada com apoio de universidades, coletivos, institutos de pesquisa e entidades públicas;
  • promover intercâmbios regionais com municípios que já possuem experiências consolidadas;
  • criar núcleos de educadores ambientais locais, articulados às escolas, unidades de saúde, CRAS e associações.
  1. c) Engajamento comunitário e escuta permanente

A Educação Ambiental se efetiva quando se baseia na escuta e no reconhecimento dos sujeitos históricos do território. Assim, é essencial que o plano:

  • incentive a criação de grupos comunitários de EA;
  • promova assembleias populares, audiências públicas e fóruns temáticos;
  • utilize metodologias como rodas de conversa, cartografia social, fotografia participativa e educomunicação.

O engajamento depende da construção de vínculos afetivos e políticos com o território. Isso exige ações territorializadas e adequadas às linguagens, aos tempos e às culturas locais.

  1. d) Articulação em rede

A criação de redes locais e regionais de Educação Ambiental permite a troca de saberes, a distribuição de responsabilidades e o fortalecimento de estratégias conjuntas. O PMEA prevê essa integração por meio da participação:

  • em consórcios intermunicipais e comitês de bacia;
  • no Programa Município VerdeAzul, como estratégia de reconhecimento e avaliação de políticas ambientais;
  • em parcerias com ONGs, universidades e iniciativas do setor privado comprometido com a sustentabilidade.

A construção de uma rede municipal de EA, com apoio técnico e autonomia, pode se tornar um instrumento fundamental para a permanência do plano.

  1. e) Comunicação transparente e acessível

A criação de uma plataforma digital interativa, materiais acessíveis e canais de escuta são passos centrais para garantir a transparência e o acompanhamento público da execução do plano. Como previsto no eixo “Transparência e Monitoramento”, recomenda-se:

  • a publicação periódica de relatórios;
  • o uso de linguagem clara, adequada a diferentes públicos;
  • a construção de materiais de educomunicação (podcasts, vídeos, HQs, murais, redes sociais);
  • a criação de espaços de escuta comunitária contínua.

 

3.5.4. A Educação Ambiental como prática cotidiana

 

Mais do que cumprir metas e indicadores, a efetivação do PMEA depende da construção de uma cultura educadora e sustentável no município. Isso significa compreender a Educação Ambiental como:

  • uma prática contínua, que atravessa a vida cotidiana e os processos de formação;
  • uma política pública, com metas, financiamento e instrumentos de controle social;
  • uma proposta ética, voltada ao bem viver, à justiça, à solidariedade e ao cuidado com o território e com as futuras gerações.

Como afirma o plano:

“Consolidar o PMEA como uma política viva, dialógica, territorial e permanente exige esforço coletivo, compromisso político e escuta ativa. O desafio está posto: fazer da Educação Ambiental um pilar da democracia ambiental e da sustentabilidade em Charqueada” (PMEA, 2025, p. 46).

Educação nas Nuvens
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.