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2.4. Potencialidades locais e o papel do entorno escolar

2.4.1. Educar com o território: entre raízes culturais, natureza viva e práticas transformadoras

 

A identificação dos problemas ambientais é condição necessária, mas não suficiente, para a construção de uma política pública de Educação Ambiental crítica. É preciso também reconhecer e valorizar as potencialidades do território, seus saberes, iniciativas, recursos naturais, culturais e institucionais. Essas potencialidades são a base sobre a qual se constroem alternativas sustentáveis, coletivas e emancipatórias.

No caso de Charqueada, o diagnóstico do PMEA revela riquezas ambientais, socioculturais e pedagógicas que podem e devem ser mobilizadas como suporte à formação crítica dos cidadãos. Nesse processo, a escola e seu entorno assumem papel central, não apenas como espaço físico, mas como instância de articulação entre comunidade, natureza, cultura e educação.

 

2.4.2. Patrimônio natural e diversidade ecológica

 

Charqueada está situada em uma região de transição entre os biomas Cerrado e Mata Atlântica, o que confere ao território uma grande diversidade de espécies e formações vegetais. Essa condição oferece múltiplas possibilidades para práticas educativas em campo, como trilhas ecológicas, estudos da flora e fauna local, observação de ecossistemas e atividades de reflorestamento.

O município conta com recursos hídricos relevantes, como o Rio Corumbataí e seus afluentes, que podem ser utilizados como objetos de estudo interdisciplinar — envolvendo as áreas de Ciências, Geografia, Matemática e Artes — e como espaços de cuidado, memória e mobilização.

A presença de áreas de preservação, hortas escolares, parques e zonas rurais produtivas compõe um mosaico territorial rico para o desenvolvimento de projetos pedagógicos conectados à realidade local. As escolas, quando inseridas em dinâmicas territoriais mais amplas, tornam-se centros irradiadores de experiências de sustentabilidade.

Segundo o PMEA:

“Em termos de infraestrutura, Charqueada conta com espaços como parques e áreas de preservação que poderiam ser utilizados como locais de educação ambiental. […] A criação de trilhas ecológicas guiadas ou centros de visitação com recursos didáticos poderia enriquecer as ações de sensibilização ambiental” (PMEA, 2025, p. 33).

 

2.4.3. Cultura, memória e identidade local

 

A educação ambiental crítica valoriza não apenas a natureza, mas também os saberes culturais, históricos e afetivos que compõem o território. Charqueada possui manifestações culturais expressivas, como festas tradicionais, produções artesanais, culinária típica, e modos de vida que revelam a relação das pessoas com o ambiente.

Esses elementos representam formas legítimas de conhecimento ambiental e podem ser incorporados ao trabalho pedagógico por meio de entrevistas com moradores antigos, visitas a espaços culturais, oficinas com mestres locais, registros das festas populares e produção de narrativas sobre o lugar.

A presença de comunidades descendentes de imigrantes europeus (alemães, suíços, italianos), que historicamente contribuíram para a ocupação e organização produtiva da região, oferece oportunidades para discutir temas como migração, uso da terra, conservação e transformações sociais.

Como aponta Brandão (2002), “o território é também um campo simbólico, onde os sujeitos produzem significados, pertencimentos e memórias que precisam ser acolhidos no processo educativo”.

 

2.4.4. Iniciativas existentes e redes de apoio

 

Charqueada já conta com diversas experiências de educação ambiental em andamento, promovidas por escolas, secretarias municipais, associações e empresas. Entre elas, destacam-se:

  • hortas escolares integradas ao currículo e ao projeto político-pedagógico;
  • campanhas sobre uso consciente da água, separação de resíduos e combate às queimadas;
  • plantios comunitários de mudas nativas;
  • oficinas com materiais reutilizáveis;
  • parcerias com bancos e empresas para apoio a projetos socioambientais;
  • ações em áreas rurais voltadas à preservação de nascentes e técnicas agroecológicas.

Essas experiências demonstram que há capacidade instalada e capital social no município. O desafio é articular essas iniciativas em uma estratégia municipal integrada e contínua, fortalecendo a educação ambiental como política pública permanente.

O PMEA reconhece esse potencial:

“As atividades do poder público municipal em educação ambiental têm grande potencial, mas poderiam ser ampliadas e estruturadas por meio de um planejamento estratégico robusto” (PMEA, 2025, p. 32).

 

2.4.5. A escola como núcleo articulador

 

O papel das escolas vai além da função de ensinar conteúdos. Elas são núcleos de formação cidadã, centros de convivência e articulação comunitária, especialmente em territórios periféricos e rurais. Ao assumir a Educação Ambiental como eixo pedagógico transversal, a escola se fortalece como agente transformador da realidade local.

As escolas municipais de Charqueada vêm desenvolvendo abordagens interdisciplinares, trabalhando a temática ambiental nas disciplinas de Ciências, Geografia, Artes e Língua Portuguesa, entre outras. Projetos como hortas escolares, produção de materiais educativos, campanhas internas e visitas a áreas naturais contribuem para o envolvimento dos estudantes com os problemas e potenciais do território.

Contudo, conforme destacado no diagnóstico, há ainda desafios importantes: falta de materiais didáticos, escassez de formações específicas e necessidade de maior apoio institucional.

Nesse sentido, o entorno escolar deve ser compreendido como espaço de observação, investigação, experimentação e intervenção pedagógica. A rua, a praça, o córrego, o lote vazio, o campo, a comunidade são espaços vivos que podem (e devem) ser integrados ao currículo.

 

2.4.6. A escola como ponte entre o local e o global

 

Ao trabalhar as potencialidades locais, a escola pode também promover reflexões sobre os processos globais que afetam o município — como mudanças climáticas, globalização da economia, políticas ambientais internacionais e transição energética. Assim, contribui para a formação da ecocidadania, que articula o pertencimento territorial com a responsabilidade planetária.

Como afirma o PMEA:

“A Educação Ambiental nas escolas deve ser vivenciada como experiência interdisciplinar, problematizadora e transformadora, contribuindo para a formação de sujeitos que atuem coletivamente na construção de alternativas sustentáveis” (PMEA, 2025, p. 21).

Educação nas Nuvens
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