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2.3. Principais problemas ambientais de Charqueada

2.3.1. Desafios locais diante da crise socioambiental global

 

A identificação dos principais problemas ambientais de um território é etapa fundamental para a construção de uma política pública de Educação Ambiental comprometida com a transformação social. Esses problemas não devem ser analisados apenas sob a ótica técnica ou ecológica, mas também a partir de suas dimensões sociais, históricas, culturais e políticas, revelando como afetam, de forma desigual, diferentes grupos da população.

Em Charqueada, o diagnóstico socioambiental revelou um conjunto de questões estruturais que impactam diretamente a qualidade de vida, o equilíbrio dos ecossistemas e a efetivação dos direitos socioambientais. Esses problemas se relacionam entre si e exigem ações intersetoriais e educativas articuladas com a realidade local.

 

2.3.2. Recursos hídricos sob pressão

 

O município é atravessado pelo Rio Corumbataí, fonte vital de abastecimento hídrico para Charqueada e cidades vizinhas. No entanto, o uso intensivo da terra para agricultura, especialmente o cultivo da cana-de-açúcar, associado ao uso de agrotóxicos e à retirada de vegetação ciliar, tem provocado erosão do solo, assoreamento de cursos d’água e contaminação por resíduos químicos.

Somam-se a isso os déficits no saneamento básico: cerca de 22% da população ainda não possui acesso a tratamento de esgoto, o que representa um risco direto à qualidade da água e à saúde pública. A degradação das margens do rio e o despejo inadequado de resíduos líquidos e sólidos agravam um cenário que requer respostas urgentes.

Segundo o PMEA:

“A poluição por resíduos sólidos, escoamento superficial com agrotóxicos e sedimentos provenientes de áreas desmatadas são problemas recorrentes que comprometem a qualidade da água” (PMEA, 2025, p. 31).

 

2.3.3. Saneamento básico e saúde ambiental

 

Embora o abastecimento de água atenda a quase toda a população urbana, o tratamento de esgoto ainda é parcial, sobretudo em áreas rurais, onde predominam soluções precárias como fossas sépticas. Muitas dessas estruturas estão em más condições, provocando a contaminação de aquíferos e solos, especialmente nas regiões mais vulneráveis.

Além disso, a gestão de resíduos sólidos é deficiente: cerca de 10% da população não tem acesso regular à coleta de lixo, e o descarte irregular é recorrente, inclusive em áreas de preservação. A ausência de ecopontos, a limitação da coleta seletiva e o uso ineficiente do aterro municipal indicam a necessidade de um plano municipal de resíduos sólidos estruturado, com metas claras, ações educativas e inclusão de catadores.

O impacto desses problemas ambientais é sentido na saúde pública: há aumento de doenças de veiculação hídrica, problemas respiratórios e zoonoses. A falta de integração entre políticas de saúde e meio ambiente limita a resposta do poder público.

 

2.3.4. Cobertura vegetal em declínio

 

Charqueada localiza-se na zona de transição entre os biomas Mata Atlântica e Cerrado, apresentando um mosaico de ecossistemas com rica biodiversidade. No entanto, a expansão agrícola e urbana ao longo das últimas décadas reduziu significativamente a cobertura florestal, afetando a fauna, a flora e os serviços ecossistêmicos prestados pelas áreas naturais.

Apesar dos esforços de reflorestamento e recuperação de matas ciliares — muitos deles conduzidos com apoio de agricultores e ONGs —, a fragmentação dos habitats continua sendo um problema relevante. A falta de corredores ecológicos e de fiscalização efetiva do desmatamento limita a regeneração dos ecossistemas.

Como aponta o diagnóstico:

“O fortalecimento de áreas protegidas e a criação de corredores ecológicos são essenciais para aumentar a resiliência dos ecossistemas locais e contribuir para o equilíbrio ambiental” (PMEA, 2025, p. 35).

 

2.3.5. Urbanização desordenada e mobilidade insustentável

 

Embora Charqueada apresente densidade demográfica moderada, sua expansão urbana ocorreu de forma desorganizada, com ocupações irregulares em áreas ambientalmente sensíveis e deficiências na infraestrutura urbana. Isso gerou impactos como:

  • impermeabilização do solo;
  • ocupação de áreas de risco e margens de cursos d’água;
  • ausência de espaços públicos adequados para lazer, educação ambiental e mobilidade ativa.

Além disso, o crescimento da frota de veículos particulares, a baixa oferta de transporte público e a falta de ciclovias e calçadas adequadas resultam em um modelo de mobilidade insustentável, com emissões crescentes de poluentes e exclusão de parcelas da população do direito à cidade.

 

2.3.6. Desigualdade socioambiental e vulnerabilidade rural

 

Os problemas ambientais de Charqueada não afetam a todos da mesma forma. A população rural, por exemplo, enfrenta dificuldades no acesso à coleta de lixo, água tratada, transporte público e equipamentos culturais. Essa desigualdade reforça a noção de injustiça ambiental, em que grupos socialmente mais vulneráveis são também os mais expostos aos riscos ambientais.

Ao mesmo tempo, a área rural abriga iniciativas promissoras, como projetos de recuperação de matas ciliares, práticas de agricultura sustentável e ações educativas promovidas por escolas e organizações locais. O fortalecimento dessas ações pode gerar impactos positivos para o conjunto do município.

Como reconhece o PMEA:

“A educação ambiental na área rural de Charqueada é uma ferramenta fundamental para promover o desenvolvimento sustentável e integrar a comunidade rural nos esforços de preservação ambiental” (PMEA, 2025, p. 37).

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