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2.1. Conceito e importância do diagnóstico socioambiental

2.1.1. Compreender para transformar: o território como ponto de partida da Educação Ambiental crítica

A construção de políticas públicas efetivas em Educação Ambiental exige um ponto de partida fundamental: conhecer a realidade na qual essas políticas serão implementadas. Esse conhecimento não se restringe à coleta de dados ou ao levantamento técnico de informações. Ele exige uma leitura crítica e situada do território — uma leitura que considere os sujeitos, as relações sociais, os saberes locais, os conflitos ambientais, as potencialidades e os desafios que constituem a vida cotidiana em um determinado lugar.

É justamente essa perspectiva que fundamenta a elaboração e a importância dos diagnósticos socioambientais. No contexto do Plano Municipal de Educação Ambiental de Charqueada (PMEA), o diagnóstico é concebido como instrumento metodológico e político, que permite compreender o território em sua totalidade e orientar ações educativas coerentes com os princípios da Educação Ambiental crítica.

Segundo o texto do PMEA:

“Compreender a realidade local é essencial para agir de forma consciente e eficaz. Este módulo apresenta o diagnóstico socioambiental de Charqueada, destacando os principais desafios e potencialidades para a construção de práticas sustentáveis e emancipatórias” (PMEA, 2025, p. 25).

 

2.1.2. O diagnóstico como prática política e pedagógica

Na Educação Ambiental crítica, o diagnóstico não é apenas um retrato neutro da realidade. Ele é, como destaca Carlos Frederico Loureiro (2011), um processo de problematização do território, que mobiliza diferentes sujeitos sociais para interpretar, refletir e agir sobre as condições concretas de vida. Trata-se de uma ferramenta de análise e de transformação.

Essa perspectiva está em sintonia com a pedagogia freiriana, que propõe o ato de conhecer como um ato político: é necessário ler o mundo antes de lê-lo nos livros. O território, assim, torna-se um espaço pedagógico por excelência, onde educadores e educandos constroem juntos uma compreensão crítica dos desafios socioambientais locais.

No caso de Charqueada, o diagnóstico apresentado pelo PMEA articula dados quantitativos e qualitativos, análises estruturais e narrativas locais. Ao invés de limitar-se a uma leitura tecnocrática da realidade, ele busca incorporar elementos históricos, culturais, ecológicos e sociais, revelando as múltiplas dimensões da crise ambiental no município.

 

2.1.3. Um instrumento para a ação transformadora

O diagnóstico socioambiental se torna relevante na medida em que orienta ações educativas situadas, que partem dos problemas concretos vivenciados pela comunidade e se conectam com a construção de alternativas sustentáveis.

Em Charqueada, o diagnóstico aponta para desafios como:

  • a degradação dos recursos hídricos, especialmente do Rio Corumbataí;
  • os limites do saneamento básico, com cobertura parcial da rede de esgoto;
  • a insuficiência da coleta seletiva e a ocorrência de descarte irregular de resíduos;
  • a pressão sobre a cobertura florestal e as áreas de preservação;
  • a desigualdade no acesso a serviços ambientais e educativos entre zonas urbana e rural;
  • a fragilidade da infraestrutura pública voltada à educação ambiental.

Ao mesmo tempo, o documento identifica potencialidades significativas: a diversidade biológica, a presença de áreas de preservação, o protagonismo de professores e escolas em projetos socioambientais, as campanhas já existentes e a possibilidade de integração com ações de turismo ecológico, valorização cultural e redes interinstitucionais.

A leitura conjunta desses dados permite compreender a Educação Ambiental como estratégia transversal de enfrentamento das injustiças ambientais, de fortalecimento da cidadania ecológica e de construção de políticas públicas mais democráticas e integradas.

 

2.1.4. A leitura do território como prática educativa

Ao assumir o diagnóstico como fundamento do planejamento pedagógico, o PMEA propõe uma visão de Educação Ambiental que ultrapassa os muros da escola. Os espaços públicos, as praças, os rios, as comunidades, os assentamentos rurais, as feiras e os parques passam a ser compreendidos como territórios educativos.

Essa abordagem resgata a noção de que o ensino deve estar enraizado na realidade dos educandos. Como destacam Sauvé (2005) e Guimarães (2004), o meio ambiente não é apenas tema, mas também contexto, conteúdo e metodologia da prática educativa.

A realização de diagnósticos socioambientais nas escolas, por exemplo, pode se traduzir em projetos investigativos em que os estudantes mapeiam as condições ambientais da vizinhança, identificam conflitos, entrevistam moradores e constroem propostas de intervenção. Essa prática estimula o pensamento crítico, a autonomia e o protagonismo juvenil, elementos centrais para uma Educação Ambiental crítica.

Como afirma o PMEA:

“Conhecer o território é o primeiro passo para transformá-lo. O diagnóstico socioambiental permite que a comunidade escolar compreenda os desafios de sua realidade e atue de forma consciente e transformadora” (PMEA, 2025, p. 26).

 

2.1.5. Do diagnóstico à política pública

Outro aspecto fundamental da importância dos diagnósticos está na sua capacidade de fundamentar a formulação de políticas públicas. Sem o conhecimento adequado da realidade local, políticas ambientais correm o risco de reproduzir soluções genéricas e descontextualizadas.

O diagnóstico do PMEA de Charqueada serviu como base para a construção de diretrizes, objetivos, metas e indicadores do plano. Ele permitiu identificar lacunas e potencialidades, definir prioridades e propor ações com base em evidências concretas. Ao mesmo tempo, garantiu transparência, participação social e legitimidade ao processo.

Essa experiência pode ser ampliada para outros municípios, como parte de uma cultura de planejamento democrático e territorializado. O diagnóstico, assim, deixa de ser um fim em si mesmo e se transforma em instrumento de planejamento, avaliação e mobilização comunitária.

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