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4.5. Avaliação como processo pedagógico e participativo

4.5.1. Avaliar é educar: escuta, diálogo e transformação como princípios da prática avaliativa

 

No contexto da Educação Ambiental crítica, a avaliação deve ser compreendida não como um ato isolado e punitivo, mas como um processo pedagógico, dialógico e permanente, voltado à leitura compartilhada da realidade, à melhoria das ações e à ampliação da participação dos sujeitos. Avaliar, nesse sentido, é educar na e para a transformação.

Essa perspectiva rompe com modelos avaliativos centrados apenas em metas numéricas ou em critérios externos, e propõe uma abordagem integrada ao território, à cultura local e aos princípios ético-políticos que orientam o PMEA de Charqueada.

 

4.5.2. Avaliação como escuta e reflexão coletiva

A avaliação, quando feita com base em metodologias participativas, permite que diferentes sujeitos — educadores, estudantes, gestores, conselheiros, moradores, agricultores, jovens e idosos — possam expressar suas percepções sobre as ações realizadas, indicar caminhos e compartilhar aprendizados. Nesse processo, cria-se uma cultura de escuta ativa, diálogo respeitoso e construção coletiva do conhecimento.

Essa escuta pode se concretizar por meio de:

  • rodas de conversa com estudantes e educadores;
  • reuniões comunitárias e fóruns públicos;
  • entrevistas abertas com grupos diversos;
  • questionários com linguagem acessível;
  • produção de narrativas, vídeos e materiais reflexivos pelos próprios participantes.

 

4.5.3. Avaliação formativa e processual

Diferentemente de avaliações meramente somativas (que verificam resultados ao final de um ciclo), a avaliação no campo da Educação Ambiental deve ser formativa — ou seja, acontecer ao longo de todo o processo, identificando avanços, dificuldades, resistências e novas possibilidades.

Essa avaliação deve considerar:

  • o envolvimento dos participantes;
  • a coerência entre objetivos e práticas;
  • a relevância dos conteúdos e metodologias;
  • o vínculo com o território e com os saberes locais;
  • a capacidade das ações de gerar continuidade, pertencimento e transformação.

Como afirma Guimarães (2004), a avaliação na EA deve ser “um exercício político de releitura crítica do processo vivido, que não se limita a verificar, mas também a transformar”.

 

4.5.4. Indicadores como instrumentos de escuta e não de controle

Os indicadores apresentados ao longo deste módulo só terão sentido se forem utilizados com finalidade formativa, ética e comprometida com o bem comum. Isso significa que:

  • eles devem ser construídos e validados com os sujeitos das ações;
  • devem servir para compreender, e não punir;
  • devem possibilitar a reorganização das práticas e políticas com base nas realidades vividas.

É preciso evitar o uso tecnocrático e meramente estatístico dos indicadores, que transforma a avaliação em ranking ou competição. Em vez disso, a avaliação deve fortalecer a autonomia, o diálogo e a corresponsabilidade entre todos os envolvidos.

 

4.5.5. Avaliar com o território, não apenas sobre ele

No caso de Charqueada, a avaliação das ações do PMEA precisa reconhecer a diversidade dos territórios, suas desigualdades, histórias, memórias e formas de organização social. Avaliar com o território significa:

  • respeitar os ritmos e linguagens de cada grupo;
  • reconhecer os saberes populares e tradicionais como fontes legítimas de conhecimento;
  • adaptar os instrumentos avaliativos a diferentes públicos (como estudantes, agricultores, idosos, crianças, pessoas com deficiência);
  • garantir a devolutiva dos resultados da avaliação à comunidade de forma acessível e transparente.

Essa abordagem exige a criação de mecanismos permanentes de participação e diálogo, como comissões comunitárias, grupos de monitoramento, assembleias escolares e espaços digitais colaborativos.

 

4.5.6. A avaliação como parte da cultura democrática

Por fim, avaliar é também um ato político. É por meio da avaliação crítica que as comunidades se apropriam das políticas públicas, exercem controle social e constroem alternativas à lógica da invisibilidade, da desigualdade e do autoritarismo.

O PMEA de Charqueada, ao incorporar a avaliação como um de seus cinco eixos estruturantes, afirma o compromisso com uma educação pública de qualidade, participativa e vinculada à justiça socioambiental. Consolidar essa visão exige esforço coletivo, formação continuada e coragem para rever rotas quando necessário.

Como sintetiza o próprio plano:

“A avaliação deve ser entendida como um processo pedagógico e político, em constante construção, orientado pelo diálogo com os sujeitos, pela transformação das práticas e pela escuta ativa da realidade local” (PMEA, 2025, p. 49).

Educação nas Nuvens
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