4.2.1. Do número à narrativa: dimensões complementares na avaliação da Educação Ambiental
A construção de indicadores é um dos elementos centrais para o monitoramento e a avaliação de políticas públicas. Contudo, quando se trata de Educação Ambiental — e, em especial, da perspectiva crítica adotada pelo PMEA de Charqueada — não basta contar o que foi feito: é preciso compreender como, por que e com que efeitos isso ocorreu.
Nesse sentido, a distinção (e a articulação) entre indicadores quantitativos e qualitativos é essencial para assegurar que a avaliação reflita a complexidade, a diversidade e a profundidade dos processos educativos envolvidos. Este tópico busca discutir as principais diferenças entre esses dois tipos de indicadores, mostrando suas contribuições, limites e complementaridades no contexto da Educação Ambiental.
4.2.2. Indicadores quantitativos: mensurar, comparar, acompanhar
Os indicadores quantitativos são aqueles expressos numericamente. Eles permitem medir a frequência, o volume, a abrangência ou a intensidade de determinado fenômeno, sendo úteis para:
Exemplos típicos de indicadores quantitativos em Educação Ambiental incluem:
Esses indicadores são importantes porque traduzem parte da ação em dados objetivos, que podem ser organizados em gráficos, planilhas e relatórios. No PMEA de Charqueada, por exemplo, cada meta é acompanhada de indicadores numéricos que permitem verificar se as ações foram executadas conforme o planejado.
Contudo, os indicadores quantitativos também apresentam limites importantes, sobretudo quando utilizados de forma isolada. Eles:
4.2.3. Indicadores qualitativos: compreender, interpretar, aprofundar
Já os indicadores qualitativos têm como foco os sentidos, os significados e os processos que acompanham as ações. Eles se baseiam em narrativas, percepções, escutas e registros que expressam dimensões como:
Exemplos de indicadores qualitativos no contexto do PMEA:
Para sistematizar indicadores qualitativos, é possível utilizar:
A principal força dos indicadores qualitativos está em sua capacidade de captar dimensões invisibilizadas pelos números, como vínculos afetivos, conflitos, aprendizados informais e significados simbólicos da ação.
Contudo, esses indicadores também têm desafios:
4.2.4. Complementaridade entre indicadores: uma abordagem integrada
Mais do que escolher entre indicadores qualitativos ou quantitativos, o desafio é construir modelos de avaliação integrados e coerentes com os princípios da Educação Ambiental crítica.
Autores como Malheiros (2009), Guimarães (2004) e Cymrot et al. (2014) defendem a utilização de sistemas híbridos de avaliação, em que diferentes tipos de indicadores se complementam. A ideia é que os dados quantitativos ofereçam um retrato objetivo das ações realizadas, enquanto os qualitativos revelam sua profundidade, relevância e sentido formativo.
4.2.5. Avaliar com o território: princípios éticos e pedagógicos
No contexto da Educação Ambiental crítica, avaliar não é apenas verificar o que foi feito, mas refletir coletivamente sobre os processos vividos, os aprendizados construídos e os caminhos futuros. Avaliar é educar.
Por isso, a escolha de indicadores — sejam eles quantitativos ou qualitativos — deve:
Como sintetiza Malheiros (2001):
“Avaliar a Educação Ambiental é, antes de tudo, um exercício de escuta, diálogo e comprometimento com o território.”