4.1.1. Indicadores como instrumentos de leitura crítica, planejamento e transformação
A efetivação de uma política pública requer não apenas metas e ações, mas também instrumentos de acompanhamento e avaliação que permitam compreender os avanços, identificar desafios e qualificar os processos em curso. No caso da Educação Ambiental, esse acompanhamento ganha uma dimensão ampliada: ele deve ser participativo, dialógico, sensível às especificidades territoriais e coerente com os princípios éticos e pedagógicos da EA crítica.
É nesse contexto que se inserem os indicadores educacionais e ambientais: ferramentas que, quando bem construídas e contextualizadas, contribuem para fortalecer a gestão democrática, o controle social e o aprimoramento permanente das ações.
4.1.2. O que são indicadores?
De modo geral, indicadores são descritos como informações sistematizadas que servem para representar uma realidade de maneira inteligível e monitorável ao longo do tempo. Eles não são a realidade em si, mas representações sintéticas que ajudam a orientar decisões, ajustar rotas e comunicar resultados.
No contexto da Educação Ambiental, indicadores devem ser mais do que números: devem refletir mudanças de percepção, engajamento, práticas e relações socioambientais. Como destaca Malheiros (2001), um dos principais autores brasileiros sobre o tema:
“Os indicadores em Educação Ambiental devem ser construídos com base em processos participativos, levando em conta o contexto local, a valorização dos saberes dos sujeitos e a complexidade das relações socioambientais envolvidas.”
Assim, pensar indicadores nessa área implica romper com lógicas tecnocráticas e reducionistas que limitam a avaliação a resultados quantitativos ou padrões externos. Ao contrário, exige incorporar aspectos qualitativos, subjetivos e simbólicos que expressem os efeitos educativos e transformadores das ações desenvolvidas.
4.1.3. Indicadores educacionais e ambientais: interfaces e especificidades
Indicadores educacionais são tradicionalmente utilizados para avaliar sistemas de ensino, processos pedagógicos e desempenho de alunos e instituições. Já os indicadores ambientais medem condições ou transformações no meio ambiente (como qualidade da água, índice de vegetação ou geração de resíduos). No caso da Educação Ambiental, o desafio está justamente em articular essas duas dimensões, sem reduzir uma à outra.
Essa articulação exige reconhecer que a Educação Ambiental é, ao mesmo tempo:
Portanto, os indicadores do PMEA devem permitir avaliar tanto aspectos do processo pedagógico (como engajamento dos sujeitos, interdisciplinaridade, construção de vínculos com o território) quanto resultados institucionais e sociais (como a criação de espaços formativos, a incidência em políticas públicas ou a gestão ambiental em escolas e comunidades).
Para Cymrot et al. (2014), bons indicadores em EA são aqueles que:
4.1.4. A perspectiva crítica sobre os indicadores
Autores como Layrargues e Sorrentino alertam que o uso acrítico de indicadores pode esvaziar o sentido político da Educação Ambiental, especialmente quando se adota uma lógica de avaliação meramente gerencialista. É preciso, portanto, questionar o que se mede, para quê e a partir de quais valores.
Malheiros (2009), ao propor indicadores para programas de EA em instituições de ensino superior, destaca a importância de combinar:
Essa lógica pode ser adaptada ao contexto municipal, conforme o PMEA propõe ao criar indicadores quantitativos e qualitativos para cada uma das suas ações, com meios de verificação explícitos e exemplos aplicáveis ao cotidiano.
4.1.5. A importância do território e da escuta
A construção de indicadores em Educação Ambiental deve ser situada no território e baseada na escuta dos sujeitos envolvidos. Indicadores que fazem sentido em uma cidade de grande porte, por exemplo, podem não se aplicar diretamente ao contexto de um município como Charqueada, cuja dinâmica é fortemente marcada pela ruralidade, pelos vínculos comunitários e pela sobreposição de papéis institucionais.
Por isso, é essencial:
Como destaca Malheiros (2001), “a participação dos atores locais na construção dos indicadores é a chave para sua legitimidade, aplicabilidade e efetividade”.